
Quanto vale uma peça do puzzle que é a passagem do tempo, quando pertenceu a figuras tão carismáticas como Steve Jobs, Paul Newman ou Jacqueline Kennedy? Os seus relógios de pulso são hoje vendidos em leilão por valores astronómicos, não pelo seu valor material, mas pelas histórias que testemunharam. São instrumentos de medição que tanto antecipam o futuro como compõem as memórias preservadas pelos anteriores proprietários. Num mundo dominado pelo digital, o afecto não fica para trás.
O tempo – essa dimensão invisível que rege o universo – não se possui, não se compra. Caso contrário, faria certamente parte dos bens de luxo. É por ser tão precioso que temos procurado domá-lo ao longo de séculos, construindo artefactos que nos dão a ilusão de controlar o presente. Mas, hoje, num mundo em que os acontecimentos só parecem reais quando os vemos no ecrã do telemóvel ou no painel do carro, não é a utilidade que nos leva a suspirar por um Rolex ou um Cartier. Há peças de arte da relojoaria que não se compram para ver as horas, e um relógio analógico não é um mero acessório ou uma tendência. É uma extensão de quem o usa. Conta não apenas o tempo que é, mas também a história do tempo da personalidade que com ele viveu. E pode durar gerações.
Não se sabe ao certo quando surgiu o relógio de pulso. Mas existe um exemplar, um modelo feminino de um relógio incorporado em pulseira, que data de 1813 e se encontra em exposição no Museu Internacional da Horologia, na Suíça. Esse relógio, o primeiro da Patek Philippe, foi vendido em 1876 à Condessa Koscowicz da Hungria e é conhecido por ter sido um dos primeiros relógios de pulso – a par de um outro da Cartier, de 1904, que foi feito de propósito a pedido de Santos-Dumont. O famoso aviador tinha um propósito claro: cronometrar os voos sem tirar as mãos dos controlos. Foi assim que o relógio de pulso ganhou popularidade entre os homens. Em 1924, John Harwood patenteou o sistema de carregamento automático, que permite ao relógio “alimentar-se” através de um sistema de engrenagens e molas, e três anos depois, a Rolex lançou a icónica caixa Oyster — testada com sucesso por Mercedes Gleitze na travessia do Canal da Mancha, após 15 horas e 15 minutos de imersão. A partir daí, a relojoaria nunca mais parou de se reinventar.
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