
Não acredito que a Teresa já fez dois meses. É estranho vê-la crescer tão rápido: a forma como balbucia cada vez mais, como sorri com as gengivas, ou como movimenta as pernas a toda a hora, como se estivesse a andar de bicicleta. Por outro lado, é ainda um bebé, e eu não faço ideia do que fazer com um bebé um dia inteiro. Às vezes, sinto-me culpada por não brincarmos mais (a quê?), mas depois lembro-me como me olha desconfiada quando canto ou leio para ela, ou a faço dançar com os mãos e os braços, e penso que deve ser muito cansativo estar a fazer tanto, e a receber tantos estímulos de uma só vez, quando ainda ontem estava só a boiar.
A maior parte do tempo estamos as duas sentadas no cadeirão da sala: ela a dormir ou a tentar falar comigo (não se percebe nada, mas já fala muito), eu a escrever ou a tentar falar com ela. Será que se vai lembrar destes momentos? Provavelmente não, mas gosto de imaginar que sim, que estamos a criar um ritual de mãe e filha. Que daqui a uns tempos, quando ela estiver mais interessada em ouvir-me (agora quer sobretudo sentir o meu cheiro e o meu toque), lhe vou contar histórias sentada no cadeirão. E que encontraremos outras coisas para fazer juntas aqui (ou noutra casa, mas no mesmo cadeirão).
Durante Abril, aproveitei as sestas dela ou para escrever para o Substack, ou para avançar na especialização de SEO da Universidade da Califórnia, na Coursera. Além disso, também fiz o curso do mês do Plano Nacional de Leitura, “Como Ler e Porquê”, com Regina dos Santos Duarte — hei-de escrever mais sobre isto (estou, inclusive, a pensar numa série com a mesma temática para a minha newsletter em inglês, Binge-Read). Entretanto, ganhei uma bolsa de estudo da Open Academy do Santander, que me vai dar acesso a um ano de cursos gratuitos na Coursera, o que é incrível (estava a investir 47€ por mês na plataforma, o que significa que vou poupar 564€).
Não sei exactamente como, mas também consegui terminar três livros, todos lidos em e-book, no Kobo:
Sunrise on the Reaping (Amanhecer na Ceifa), de Suzanne Collins. A mais recente prequela do universo de Hunger Games debruça-se sobre a experiência de Haymitch Abernathy — o mentor de Katniss e Peeta na trilogia original — nos Quinquagésimos Jogos da Fome.
Comprei no Kobo, em inglês. Como fã do universo criado por Collins, adorei. Como leitora crítica, achei bastante fraco: não só a escrita deixa a desejar, como a história não acrescenta nada de novo.
Arena One: Slaverruners, de Morgan Rice. Este livro — o primeiro de uma trilogia — segue Brooke, de 17 anos, uma das últimas sobreviventes livres numa América pós-apocalíptica, enquanto tenta salvar a sua irmã mais nova dos Slaverruners, um grupo que força os seus prisioneiros a lutar até à morte.
Não sei porquê, mas já tinha este livro na minha conta quando liguei o meu Kobo pela primeira vez, razão porque decidi dar uma hipótese. Resumindo: é um caos. Provavelmente funcionaria como filme de acção, até porque mais de metade do plot é uma perseguição entre veículos. Ainda estou a pensar se continuo como guilty pleasure. (Spoiler: Já comprei o segundo volume… ups).
Espaço: 10 Coisas Que Deve Saber (Space: 10 Things You Should Know), de Becky Smethurst. Uma visita guiada ao espaço que revela teorias fascinantes, descobertas surpreendentes e mistérios que subsistem na astronomia e na astrofísica modernas.
Requisitei, em português, através do BiblioLED. Para quem não sabe, tenho um mestrado em Comunicação de Ciência pela FCSH-NOVA (agora pareço aquelas pessoas de Harvard que estão sempre a fazer name-dropping), mas há muito tempo que não lia um livro de ciência (neste caso, popular science, a chamada ciência para leigos). Não sei se foi por isso, mas até achei isto puxadinho (ou então é só falta de prática).
Entretanto, comecei a ler Primavera (Spring), de Ali Smith, — que, tcharan, requisitei através do BiblioLED —, mas não estou agarrada e não sei se vou conseguir terminar até o meu empréstimo expirar. Além disso, tenho um carrinho de compras na Wook de mais de 100€. Sim, está pendente, porque estou a controlar-me ao máximo, uma vez que a probabilidade de conseguir ler alguma coisa impressa é 0, mas são títulos de autores (Afonso Cruz, António Jorge Gonçalves, Tiago Rodrigues, Teresa Coutinho e Djaimilia Pereira de Almeida) que gostava mesmo de ter na estante — sobretudo O Caminho de Volta, que é o mais recente título da colecção de não-ficção literária da Companhia das Letras, que eu não me canso de recomendar.
Estou a pensar subscrever o Kobo+ da LeYa. (Impulsiva como sou, acabo este texto e subscrevo de uma vez. Diria que há piores formas de gastar dinheiro…)
Este foi o meu mês de Abril. Se quiseres, partilha o teu comigo, nos comentários. Mas, atenção, ainda tenho recomendações para fazer.
canto da sereia #18
I
Este mês, terminei de ver Slow Horses (Apple TV), e a primeira temporada de The Changeling (Apple TV) e Pulse (Netflix). Comecei também a ver Severance (Apple TV) e já estou a chegar ao fim da segunda temporada. Recomendo tudo — aviso à navegação: Pulse é só para quem gosta de dramas médicos, e dramalhões no geral.
Entretanto, estou super ansiosa para a estreia de Murderbot (Apple TV), uma nova série de ficção-científica baseada nos The Murderbot Diaries de Martha Wells; e das segundas temporadas de The Last of Us (Max), uma série dramática pós-apocalíptica onde o mundo foi devastado por um fungo parasita; WondLa (Apple TV), uma série de animação que adapta a trilogia infanto-juvenil The WondLa de Tony DiTerlizzi; e The Buccaneers (Apple TV), que segue um grupo de jovens americanas na Londres de 1870.
II
Estou super entusiasmada com a minha newsletter literária em inglês, Binge-Read. Já tenho imensas publicações agendadas e outras tantas na minha cabeça, incluindo críticas a livros.
Ainda não sei se irei publicar também em português, mas para quem só me lê por aqui, planeio fazer no mínimo um apanhado a cada seis meses, por isso em Junho há edição dedicada às minhas leituras até ao momento.
III
Agora que há novos Substacks portugueses dia sim, dia não, quero reforçar o serviço público que é esta lista do João Lameira, que procura reunir todas (ou quase todas) as newsletters escritas por portugueses ou a partir de Portugal.
Tenho gostado de ler Autoterapia, de Cátia Madeira; Caderno de Curiosidades, de Ana Vargas Santos; Ainda Não Acabei de Pensar Nisso, de Rita Caré; Ainda Bem Que Voltaste, de João Salazar Braga; Acento Circunflexo, de Rui Pedro Gomes; Cronista em Sutiã, de uma cronista anónima; Shot de Cafeína, de Rafaela; e A Tua InSónia, da minha amiga Sónia, que um dia terá muitos livros nas livrarias deste país.
Depois há aqueles Substacks que, por várias e diferentes razões, são de leitura obrigatória, como O Amador Financeiro, que me tem ensinado a ser mais responsável com o meu dinheiro; o Clube de Leitura Livraria Plutão, que me faz rir (e sorrir) como ninguém; ou o Céu da Boca, de Cristina Costa Azedo, que tem escrito uma história por capítulos absolutamente deliciosa — chama-se A Cigana da Minha Mãe e não é sobre uma mãe que é cigana mas sobre uma mãe que tem (como quem diz) uma cigana. (Há mais, claro, mas se os nomeasse a todos, nunca mais saía daqui).
E, por último, mas não menos importante, os Substacks dos famosos, que podiam não ser famosos, que eu seguia na mesma, porque são de facto pessoas interessantes: o ilustrador André Carrilho, a radialista Ana Markl, o homem dos sete ofícios Nuno Markl, e a rapper Capicua.
Breviário do mês
Um livro: A Theory of Dreaming, de Ava Reid. Recebi uma cópia avançada através da NetGalley, mas estou a tentar perceber como vou ler, porque o meu Kobo não suporta o formato disponível e agora é-me mais difícil ler no iPad.
Uma série: Severance, na Apple TV+. Estou a gostar mesmo muito.
Uma música: “Deslocado”, da banda madeirense Napa, que venceu o Festival RTP da Canção de 2025.
Um local: A esplanada do quiosque do Largo do Leão.
Uma comida: O bolo de banana do Brunch Al Parmigiano em Lisboa (Avenida Almirante Reis 79A).
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Ler livros físicos com um bebé é uma empreitada. Mas agora que aqui a Júlia já tem um ano já tenho conseguido de vez em quando.
Tudo séries boas que são aqui mencionadas.
A descrição que fazes com a Teresa durante o dia foi deveras deliciosa. Com certeza passam por alguns desafios diários, ainda assim, acalenta-me saber que ela é uma paz de alma 🐥🍼
Estou a três episódio de terminar Severance!!! Adorei a primeira temporada, tenho algumas críticas quanto ao rumo que lhe estão a dar...mas não quero ser precipitada.
Parece-me que abril foi bastante gentil para muita gente. Fico super contente que tenhas ganho a bolsa do Open Academy do Santander ✨🙏🏽 bons estudos!