Fevereiro foi, sobretudo, uma espécie de limbo. A certa altura achei que ia chegar até Março ainda grávida. É que, contra todas as expectativas, o meu útero incompetente aguentou-se mais do que o previsto. A cada consulta, o obstetra, jocoso, dizia “Ainda vamos ter de a induzir!” e “Agora é esperar que Deus se lembre de si!”. Mas eis que, depois de uma avaliação do colo no privado e de um dia super activo (um passeio de 5km, exercícios para induzir o parto e outras mezinhas), a miúda respeitou finalmente a ordem de despejo.
Eram umas quatro da manhã de dia 20 quando chegámos à MAC, já eu tinha quatro centímetros de dilatação. Intercorrências à parte, a Teresa nasceu às 15.02, para se juntar ao clã de Peixes, como a mãe — se tivesse nascido no dia previsto ou até 19, seria Aquário, como o pai. (Ele faz anos dia 16, eu dia 23. Com o aniversário dela a meio, há quem nos tenha sugerido começar a alugar uma quinta para fazer uma semana de festa. Houvesse dinheiro para isso e eu subscrevia.)
Adiante. O que importa dizer é que, nem que seja porque fui eu que a fiz, acho-a um mimo. Além de bonita que dói, é relativamente tranquila. Se estiver quente e confortável, ninguém dá por ela. Só estrebucha se ousarmos tirar-lhe a roupa, o que é perfeitamente legítimo.
Por outro lado, é com felicidade que posso dizer que ser mãe e pai de primeira viagem está a ser menos caótico do que o esperado (embora não menos intimidante). Talvez porque eu e o João estamos de facto focados na miúda e tão apaixonados por ela que até a nossa forma de comunicar um com o outro melhorou. De certa forma sentimo-nos mais próximos e em sintonia. Sei que nem sempre isso acontece. A parentalidade também é um desafio à dinâmica familiar e à conjugalidade. Como se sabe, o nascimento de um filho conduz a grandes mudanças e adaptações a novos papéis.
Longe de me sentir plenamente confortável no meu novo “eu”, penso que já aprendi pelo menos três coisas dignas de partilhar:
A parceria parental é de facto um trabalho de equipa e tanto o todo como o individual são de extrema importância. Isto para dizer que a comunicação flui melhor e a colaboração é mais eficaz quando estamos os dois no nosso melhor estado de espírito. Para isso, e contando com a cruel realidade da privação de sono, é fundamental uma grande dose de empatia e respeito pelo que cada um está a sentir a cada momento.
As melhores visitas são as que trazem marmita. É que a dar de mamar em horário livre (o que no nosso caso é de 2h em 2h 24/7) e a tentar manter a casa organizada sem cair para o lado de exaustão, dúvidas e receios, não há ninguém que tenha energia para se pôr a cozinhar. De modos que me sinto abençoada por ter quem me leve tupperwares recheados lá a casa.
Na dúvida, é confiar no nosso instinto. Os bebés não são todos iguais e o que resultou com um não resulta necessariamente com outro, pelo que a melhor estratégia é darmos o nosso melhor a cada momento e confiar que isso é exactamente o que a nossa filha precisa.
De resto, não tenho grandes notas a fazer sobre o último mês, a não ser que, rufar dos tambores, terminei um curso de introdução ao SEO na plataforma Coursera. Faz parte de uma especialização em Search Engine Optimization da Universidade da Califórnia, que inclui mais quatro formações. Cada uma tem uma série de módulos – com vídeos, leituras recomendadas, exercícios práticos e um quiz com avaliação, – e todas dão direito a um certificado, que é possível adicionar ao nosso perfil do LinkedIn.
Entretanto, já avancei para o curso de Google SEO Fundamentals. Tendo em conta o meu progresso actual, devo concluí-lo a 26 de Março, mas não sei se vou conseguir conciliar com o novo desafio da maternidade. Terei de ir avaliando. De qualquer forma, cheguei à conclusão que a subscrição plus da Coursera vale de facto a pena e que quero continuar a investir na minha formação. Depois da tal especialização em SEO, gostava de conseguir o certificado profissional da Google em cibersegurança1.
É provável que nada disto vos interesse, mas de facto Fevereiro passou a correr e não fiz nem pensei em muito mais. Nem sequer consegui terminar o livro – Não Serei Eu Mulher?, de bell hooks – que me propus a ler no âmbito do Clube de Leitura Anti-Racista, a que me juntei em Janeiro. Para dizer a verdade, não terminei uma única leitura. Espero conseguir contrariar a tendência este mês de Março.
canto da sereia #9
I
Para futuras ou recém-mamãs, recomendo o Newborn Mum’s Club. Cruzei-me com o projecto no Instagram e adorei ler o e-book gratuito Coisas que gostava que me tivessem dito sobre isto de ser mãe.
II
Quando estava a pesquisar pinturas relacionadas com o trabalho de parto, descobri o Birth Project da pintora Amanda Greavette. Achei muito bonito e comovente. E, a propósito, recomendo a leitura de How Artists Are Breaking the Taboos Around Depicting Birth, de Julia Halperin, no The New York Times.
III
Partilho um poema sobre a importância de nascer:
“Being born is important
You who have stood at the bedposts
and seen a mother on her high harvest day,
the day of the most golden of harvest moons for her.
You who have seen the new wet child
dried behind the ears,
swaddled in soft fresh garments,
pursing its lips and sending a groping mouth
toward nipples where white milk is ready.
You who have seen this love’s payday
of wild toiling and sweet agonizing.
You know being born is important.
You know that nothing else was ever so important to you.
You understand that the payday of love is so old,
So involved, so traced with circles of the moon,
So cunning with the secrets of the salts of the blood.
It must be older than the moon, older than salt.”
– Carl Sandburg
IV
A propósito do curso de SEO, foi-me recomendada a visualização deste vídeo sobre a importância de sermos curiosos e continuarmos a procurar respostas.
V
Depois de ter homenageado Maria Teresa Horta com a gravação de um poema seu, João Azevedo resolveu lançar a rubrica Poemário, onde tem dado voz à poesia – começou por Adeus, de Eugénio de Andrade, um dos meus poemas favoritos de todo o sempre. E eu tenho gostado tanto de o ouvir que estou com uma vontade incontrolável de me juntar à experiência com umas declamações aqui neste meu burgo. Em breve, em breve.
Breviário do mês
Um livro: Este mês não consegui terminar nada, mas estou quase a fechar o Saber Perder, de Margarida Ferra. E, surpresa, já recomendo imenso. Talvez porque me tem lembrado os últimos dois livros da Susana Moreira Marques, que fazem parte da mesma colecção de não-ficção literária da Companhia das Letras (pela qual, sim, sou obcecada).
Uma série: Se gostarem de thrillers, recomendo The Night Agent, uma série de acção e espionagem, baseada no livro homónimo de Matthew Quirk. Disponível na Netflix, já tem duas temporadas e uma terceira confirmada.
Uma música: Não tenho ouvido nada em loop, mas descobri uns quantos artistas novos, como a banda Kalandra (recomendo, por exemplo, “Brave New World”).
Um local: Visitei, finalmente, a Good Company, e fiquei super fã. O café é óptimo e o espaço de livraria é de facto muito bonito (tem inclusive uma zona para famílias).
Uma comida: Podia contar-vos que estou viciada em pão de queijo (os da Padaria do Bairro, na Estefânia, são gigantes e ficam maravilhosos após 30 segundos a 1 minuto no microondas), mas confesso-vos antes que o me soube pela vida em Fevereiro foi o fire salmon da Poke House que comi logo a seguir ao meu parto.
Se gostaste desta edição, partilha-a com quem também a possa apreciar — quanto mais leitores, melhor! E se tiveres sugestões, comentários ou apenas quiseres dizer olá, escreve-me. Gosto de saber que estás desse lado.
Se quiseres apoiar a minha escrita, podes:
Subscrever uma assinatura paga desta newsletter
Enviar-me uns trocos via PayPal
Ajudar-me a destralhar
Talvez pareça estranho mas, antes de começar a trabalhar como jornalista na Time Out Lisboa, fui technical researcher na BitSight, uma empresa de cibersegurança.
Awwww, que bom!!! Muitos parabéns e muitas felicidades! Espero que esta nova fase te traga muito amor!
Que maravilha! Parabéns!