
Este Janeiro foi mais cinzento do que imaginei possível. Estive mais de duas semanas constipada e a perguntar-me porque é que só a mim, como se não fosse o mês das constipações e as constipações o fruto da época. À parte disso, tirei finalmente a minha cerclage. Aí está uma pequena-grande vitória. Melhor só se a Teresa parasse de tentar dar cabo das minhas costelas até lá. Mas, enfim, não se fazem milagres.
Agora que o ano novo já foi oficialmente inaugurado, que Fevereiro está finalmente ao virar da esquina, começo a pensar naquilo que gostava de viver até Dezembro. O meu parto está previsto para daqui a umas semanas e estou naturalmente ansiosa para ver a minha filha pela primeira vez. (Sinto que de certa forma já a conheço, mas quero ouvir-lhe a voz, decorar-lhe as expressões, sentir-lhe o cheiro e a pele, dar-lhe o primeiro de muitos abraços.) Depois há outros desejos que nada têm a ver com ela ou com a maternidade de um modo geral.
Por exemplo, há mais de um ano que sonho e suspiro por uma casa maior. Eu e o João gostávamos muito de encontrar um t3 com mais de 80 m2 e uma boa exposição solar1. Infelizmente ainda não juntámos o suficiente para uma entrada2. Talvez entre o final deste ano e o próximo. Mas, como para isso é preciso começarmos a poupar de forma mais significativa, decidi arranjar um template de finanças pessoais para o Google Sheets, que já me ajudou a cortar em subscrições e outros gastos que, de momento, se afiguram supérfluos.
Dito isto, além da questão da habitação, gostava de investir em formação3 e repensar a minha relação com o trabalho e a forma como o vivo, mas essa é uma preocupação para a Raquel pós-licença de maternidade. Até lá, o que eu gostava mesmo era de criar uma relação com a minha filha e, ao mesmo tempo, voltar a sentir que tenho relativo controlo sobre o meu corpo e a minha vida — como quem diz que preciso de ir ao brunch e ao teatro e, enfim, acabar com a ‘prisão domiciliária’ da baixa médica.
Nessa senda de me habitar novamente, também gostava de retomar as aulas de yoga, que pratiquei duas vezes por semana durante um ano. Agora, como não convém acrescentar 45€ mensais às minhas despesas4, a ideia seria experimentar as do ginásio, uma vez que o patronato me paga uma subscrição de Holmes Place e há um a 900 metros de minha casa. Aproveitava e fazia pilates também, por exemplo. Sempre quis experimentar.
Para terminar, porque isto já são resoluções que cheguem, mando para o ar um desejo: conseguir fazer duas ou três escapadinhas dentro do país, incluindo umas mini-férias de Verão em casa dos meus pais, em Tavira, no Algarve, e um regresso ao Porto — desta vez com a Teresa atrelada, claro.
Provavelmente nada disto vos interessa, mas registar os meus anseios é, para mim, uma forma de os tornar mais tangíveis. E, quem sabe, talvez vos instigue a fazer a vossa própria reflexão. Aliás, sintam-se à vontade para a partilhar comigo nos comentários.
canto da sereia #5
I
Recomendo O Amador Financeiro, uma newsletter sobre finanças pessoais, e em especial este artigo com questões para rever o último ano e planear objectivos financeiros com a ajuda de um template passo-a-passo. Além disso, espreitem o 1,2,3 Euros, que também se dedica a promover uma maior literacia financeira.
II
Eu não tenho nem mantenho uma agenda há anos, mas desde que engravidei que tenho usado imenso o calendário do Google e gostava de manter o hábito de ter uma espécie de agenda digital. Sim, eu sei que não é o mesmo que ter uma física. Se encontrar uma de que gosto antes da miúda nascer, logo penso no assunto.
III
O Atelier Digital da Google tem vários cursos gratuitos disponíveis e eu gostava de fazer o de Princípios do Marketing Digital. Além disso, também à borliú, a Skillshop oferece cursos relacionados com ferramentas da Google, como o Google Ads, por exemplo; e a brasileira PbyP School disponibiliza um curso de Marketing de Conteúdo da Rock Content, que me parece interessante, até porque inclui um exame e um certificado de conclusão.
IV
Se começaram o ano como eu, a precisar de um momento de sossego e relaxamento, talvez faça sentido pensarem em ir a um spa, para uma massagem ou uma sessão de flutuação. Pessoalmente, tenho pensado imenso em enfiar-me numa daquelas cápsulas cheias de água salgada5, onde entramos quase nus, fechamos os olhos e deixamos de sentir o corpo. É definitivamente um plano a realizar depois da Teresa nascer.
Breviário do mês
Um livro: Em Janeiro, li quatro livros6, mas se tivesse de recomendar apenas um teria de ser o de Tati Bernardi, Você Nunca Mais Vai Ficar Sozinha, que me fez rir muito e também me comoveu uma vez ou outra.
Uma série: Estou quase a terminar a 2.ª temporada de Silo (Apple TV+), que é das minhas séries de ficção-científica preferidas, e não quero acreditar que vou ter de esperar um ano pela próxima. Se nunca viram, talvez o trailer da 1.ª vos abra o apetite.
Uma música: Tenho ouvido muito a canção “Teresa Torga”, de José Afonso, e descobri há pouco tempo que é uma homenagem à actriz e corista portuguesa, que em 1975 se despiu no cruzamento da Avenida Miguel Bombarda com a Avenida 5 de Outubro. Gosto muito do verso que diz “Mulher na democracia não é biombo de sala”.
Um local: Se gostam de comida nepalesa e indiana, incluindo várias opções vegetarianas, recomendo muito o Rose Stupa (Rua de Ponta Delgada 80B). Já lá comi mais de cinco vezes e saio sempre satisfeita. Além disso, o proprietário7 é mesmo muito simpático e certeiro nas suas recomendações.
Uma comida: Viciei no bolo de laranja da Padaria do Bairro do Largo da Estefânia. O de iogurte também é bom, mas o de laranja é divinal.
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A nossa actual casa tem um total de duas janelas, ambas na sala, e sinto-me muitas vezes num bunker.
Apesar de eu ter direito à garantia estatal no crédito à habitação para jovens com até 35 anos, ele é proprietário da casa onde vivemos e só vale a pena pedir um crédito à habitação sozinha se encontrarmos uma casa decente a menos de 200 mil euros.
Num mundo ideal eu tinha tempo e dinheiro para ir tirar o mestrado em Edição de Texto na NOVA, que é uma ideia que já anda a marinar há algum tempo. Como não é o caso, nem será nos próximos dois anos, tenho andado a pensar em voltar a fazer um curso no CENJOR.
Era o que pagava por fazer yoga duas vezes por semana no Áshrama Almirante Reis, que recomendo muito.
As únicas que conheço em Lisboa são as dos espaços Float in, mas estou aberta a experimentar outros sítios, por isso não se inibam de me fazer recomendações.
Um Feminismo Decolonial, de Françoise Vergès; Luanda, Lisboa, Paraíso, de Djaimilia Pereira de Almeida; Você Nunca Mais Vai Ficar Sozinha, de Tati Bernardi; e Meus desacontecimentos, de Eliane Brum.
Um impressionante poliglota: já o ouvi falar fluentemente português, inglês, francês e alemão.
precisamos inventar meses novos. a gravidez é o teste da tua vida, diz um pai que nem consegue imaginar a dor-felicidade da Mãe. o ano de 2025 propício aos sonhos: utopia ou distopia? na europa pensamos precisar de mais bens materiais, mais qualidade de vida, mais felicidade, mais comida, mais sacos com compras para cuidar de outro ser. é o resultado natural do processo que nos foi educado desde que estávamos na barriga da Mãe. como quebramos a corda capital? podemos não a querer quebrar, mas não ficarmos presos a ela parece-me razoável. estamos cansados do trabalho, o Agostinho tinha razão, no fundo nascemos para ser poeta (ainda mais estes de Letras). cuidar do corpo mente, é o início de uma frase automotivacional que deve continuar inacabada. exigir o melhor de nós a cada ano e a cada ano aprender a lidar com a pressão, com a prisão em que vivemos. talvez seja isto envelhecer, que obviamente, rima com aprender. ler, ver, ouvir, comer e ir parecem-me os melhores conselhos para cairmos no canto da sereia.
Não sei como se vive sem agenda do Google, partilhada, para gestão domiciliária e dos filhos: consultas, aniversários, jantares, almoços, eventos de cada membro do casal, em conjunto, etc. Costumo dizer, a brincar, que sem agenda já os tinha deixado algures sem saber.