
Dar mama, mudar fraldas, lavar roupa, sobreviver, repetir. É mais ou menos este o resumo do mês de Março — basicamente um ciclo infinito, tipo um loop de videojogo, mas sem a opção de pause. Sim, estou exausta, mas tento lembrar-me de que a privação de sono faz parte do pacote, que já sabia ao que vinha e que não há bebés nem pais perfeitos. Só muita tentativa, erro e café.
Ainda assim, tenho uma pequena vitória para registar: consegui terminar o curso de Google SEO Fundamentals e já estou pronta para começar outro dentro da mesma especialização. O que significa que, entre cuidar da Teresa e completar mais uma formação, não terei tempo para muito mais1. (Confesso: devia era aproveitar para dormir sempre que possível!)
Para dizer a verdade, a questão do tempo tem sido premente. Com um recém-nascido em casa, os dias evaporam-se, e as madrugadas arrastam-se. Continuo a não conseguir ler praticamente nada — apesar do João me ter oferecido um Kobo Clara Colour para facilitar a leitura com a miúda ao colo, a verdade é que ela tem estado tão irrequieta e resmungona que, até ver, o Kobo só serviu para decorar a mesa de cabeceira.
Como descobri recentemente que a Teresa se acalma em movimento, especialmente se estiver deitada no ovinho, a minha esperança para Abril é que o tempo melhore, para que possamos começar a fazer passeios a sério. Assim, ela apanha ar fresco, e eu, idealmente, ganho umas duas a três horas de descanso. Melhor só se desse para umas power naps, mas não se pode ter tudo.
De resto, estou orgulhosa por ainda não ter falhado um único domingo de newsletter — um feito quase tão épico quanto trocar uma fralda explosiva às três da manhã. Além disso, já comecei a preparar o volume 2 das notas de rodapé e estou prestes a estrear o lado b(d), uma nova rubrica dedicada à banda desenhada.
Saber que continuo a encontrar tempo (e neurónios funcionais) para vos escrever soa-me quase milagroso. Mas o mais impressionante de tudo? Há mais de 200 pessoas que acham que o que digo vale a pena — ou, pelo menos, que vale o clique.
O último mês foi um teste de resistência digno de um reality show, cortesia de uma pequena criatura com um talento especial para detectar exatamente quando me sento. Mas, apesar do caos, consegui terminar um curso, manter a newsletter a correr e até fazer planos para novos projectos — prova de que, mesmo no meio da montanha-russa, ainda há espaço para mim (ou que ainda sou capaz de o criar).
Se este mês me ensinou alguma coisa, foi que o tempo agora tem outra cadência, mas que cada pequeno avanço merece ser celebrado. E que, às vezes, só ser já é uma conquista.
canto da sereia #13
I
Tenho sentido imensa vontade de ler livros sobre parentalidade ou que, sendo de ficção, explorem a temática. Reúni uma não tão breve lista de títulos que gostava de adicionar à minha estante:
The Book You Wish Your Parents Had Read2, de Philippa Perry (Penguin Life).
How to Baby: A No-Advice-Given Guide to Motherhood, with Drawings, de Liana Finck (The Dial Press).
Making Babies: Stumbling Into Motherhood, de Anne Enright (Vintage).
The Monster Within: The Hidden Side of Motherhood, by Barbara Almond (UC Press).
Little Labors, by Rivka Galchen (New Directions).
The Most Important Job in the World, by Gina Rushton (Macmillan Australia).
Body Full of Stars. Female Rage and My Passage into Motherhood, by Molly Caro May (Counterpoint).
Touched Out. Motherhood, Misogyny, Consent, and Control, by Amanda Montei (Beacon Press).
A Life’s Work. On Becoming a Mother, by Rachel Cusk (Picador).
II
Comecei a ouvir o podcast A Culpa (Não) É da Mãe, da psiquiatra Teresa Reis e da socióloga Filipa Cachapa.
III
A propósito da minha nova rubrica lado b(d), que estreia já a 31 de Março, descobri a Pentângulo, uma revista editada pela Chili Com Carne, que dá visibilidade ao trabalho de novos autores de banda desenhada e ilustração.
Se conhecerem mais revistas literárias, partilhem, por favor. Eu queria ver se encontrava a Lote, e também estou curiosa com a Counterpoint, que está disponível na Under the Cover.
Breviário do mês
Um livro: A novela gráfica A Companheira, de Agustina Guerrero, que achei absolutamente ternurenta.
Uma série: Shrinking, na Apple TV+. Terminei a segunda temporada e, eu não sou muito de comédias, mas esta série — que na verdade é um drama — é absolutamente hilariante.
Uma música: Estou viciada na Beth McCarthy, que descobri por acaso, há largos meses, no TikTok. Tenho cantado imensas vezes, normalmente durante o banho, o “All My Friends Are Hot”.
Um local: Fui pela primeira vez ao Jeronymo do Técnico Innovation Center, no Arco do Cego, em Lisboa, e gostei muito. Mal posso esperar que o tempo melhor para poder aproveitar a esplanada como deve ser.
Uma comida: Tosta caseira de presunto e queijo brie com pimenta preta e tomate cherry.
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Até porque o João está de regresso ao trabalho e só volta a ter uns dias de licença lá para o final de Abril.
Nos primeiros meses dos meus filhos foi sempre os momentos que mais coisas queria fazer. Se calhar por estar tão ocupado com tudo e com nada a minha mente acabava por fugir para as coisas novas que queria estar a fazer também. Lá no fundo sou super criativo quando sei que não vou ter tempo para tudo. Por isso dou-te força na tua demanda!
> Saber que continuo a encontrar tempo (e neurónios funcionais) para vos escrever soa-me quase milagroso. Mas o mais impressionante de tudo? Há mais de 200 pessoas que acham que o que digo vale a pena — ou, pelo menos, que vale o clique.
Continua a escrever. A tua escrita traz-me bem. 🙂