feliz dia da criança
Ou recomendações para gente de palmo e meio
Quando comecei a trabalhar como jornalista na Time Out Lisboa, em Dezembro de 2018, fiquei logo com a secção de Miúdos. A jornalista e editora dedicada, agora directora editorial da revista, estava então de licença de maternidade. Isto significa que, entre todas as outras coisas sobre as quais escrevo, também escrevo sobre livros infanto-juvenis há quase sete anos. E o Dia da Criança, que se celebra todos os anos a 1 de Junho, é a oportunidade perfeita para pôr o meu know-how em prática.
Como estou a escrever isto com a minha filha a resmungar no chão da sala (está frustrada porque não consegue alcançar o guaxinim pendurado no seu ginásio para bebés), vou simplificar e fazer-vos recomendações por género literário (e formato no caso específico da banda desenhada e álbuns ilustrados), com indicação da faixa etária recomendada. Todos os títulos listados são livros ou séries que já li parcial ou totalmente.
LIVROS PARA GENTE DE PALMO E MEIO
COMING OF AGE
Noa de Susana Cardoso Ferreira (texto) e Raquel Costa (ilustração)
A partir dos 10 anos. Este é um dos livros da minha vida. Li já adulta, reli entretanto e continua a comover-me como da primeira vez. A escrita da Susana é de uma ternura absoluta, e os desenhos da Raquel acompanham na perfeição (foi, aliás, por causa deste livro que fiquei fã do seu trabalho1). Explora a temática do luto com particular sensibilidade e debruça-se ainda sobre as relações entre netos e avós.
O Som das Coisas Leves Quando Caem de Catarina Ferreira de Almeida (texto) e Sérgio Condeço (ilustração)
A partir dos 10 anos. Fala sobre partir e dizer adeus, e a história é ambientada na Ilha Terceira, nos Açores. É de uma beleza e sensibilidade ímpares, e muito rica em paisagens e atmosferas emocionais. Escrevi sobre o livro para a Time Out.
THRILLER/AVENTURA
Colecção Cherub de Robert Muchamore
A partir dos 12 anos. Era pré-adolescente quando li o primeiro livro desta série, que considero absolutamente viciante. A Cherub é uma divisão fictícia dos Serviços Secretos Britânicos, composta predominantemente por orfãos com menos de 17 anos, e o protagonista é James, o mais recente recruta.
FANTASIA
Colecção Skandar de A. F. Steadman
A partir dos 12 anos. O primeiro livro foi-me enviado pela editora, eu li e adorei de tal forma que o ofereci a uma sobrinha e comprei os restantes em português e inglês para fazermos leitura conjunta de toda a colecção. É uma espécie de Harry Potter mas com unicórnios e mais diversidade.
Colecção Os Guardiões Selvagens de Liz Flanagan
A partir dos 9 anos. Só as capas são suficientes para atiçar a imaginação, mas a história também não fica nada atrás. Tem uma mensagem ecológica e pacifista. A protagonista, Rowan, protege e cuida de animais ameaçados e em extinção, incluindo dragões.
NÃO-FICÇÃO
Plasticus maritimus, Uma Espécie Invasora de Ana Pêgo e Isabel Minhós Martins (texto) e Bernardo P. Carvalho (ilustração)
A partir dos 12 anos. Este é para toda a família, até porque sugere “pentear a praia”, em busca de plástico e outros tesouros menos invasores.
ÁLBUNS ILUSTRADOS
Há um Monstro Em Cima da Cama / Há um Monstro Debaixo da Cama de Luís Leal Miranda (texto) e Christina Casnellie (ilustração)
Dos 4 aos 6 anos. Eu adoro tudo o que o Luís escreve (incluindo na sua muito divertida newsletter Clube de Leitura Livraria Plutão) e a sua estreia na literatura infanto-juvenil não é excepção2. É um livro com duas histórias que convergem a meio sobre um menino que tem medo de um monstro e um monstro que tem medo de um menino.
O Quarto de Susana Moreira Marques (texto) e Inês Viegas Oliveira (ilustração)
Para bebés e crianças até aos 5 anos. Diria que é uma leitura bonita para todas as idades, mas pelo tamanho e simplicidade acho que funciona particularmente bem com os mais pequeninos.
Se Choras Como Uma Fonte de Noemi Vola (texto e ilustração)
Para bebés e crianças até aos 5 anos. Li este livro pela primeira vez em inglês e fiquei muito contente quando foi traduzido. Já faz parte da biblioteca da minha filha e é daquelas leituras que recomendo a toda a gente.
Menino, Menina de Joana Estrela (texto e ilustração)
A partir dos 4 anos. Eu leio tudo o que a Joana Estrela escreve, mas se tivesse de recomendar apenas um livro, seria este. É muito importante abordar desde cedo temas como a temática da identidade e dos estereótipos de género. Partilho o que escrevi para a Time Out.
A Menina com os Olhos Ocupados de André Carrilho (texto e ilustração)
A partir dos 6 anos. Valeria a pena desde logo pelas ilustrações em aguarela de André Carrilho, que são de uma beleza e expressividade difíceis de replicar, mas não só. Fala-nos sobre todas as coisas giras, reais e imaginárias, que perdemos quando estamos vidrados nos ecrãs. Escrevi sobre o livro para a Time Out. E, apesar de ainda não ter lido, já sei que vou adorar a sequela, O Senhor Mar.
25 Mulheres de Raquel Costa (texto e ilustração)
A partir dos 8 anos. É um livro sobre a condição feminina, identidade, luta e liberdade, e vale cada leitura (e é para ler muitas vezes).
Avó, Onde Estavas no 25 de Abril de Ana Markl (texto) e Christina Casnellie (ilustração)
A partir dos 8 anos. A Ana tem outro livro que adoro, o Onde Moram os Teus Macaquinhos?, também ilustrado pela Casnellie, que se debruça sobre expressões idiomáticas. Mas se é para recomendar algum tem mesmo de ser este, por razões óbvias.
O Duelo de Inês Viegas Oliveira
Dos 6 aos 10 anos. Conheço a Inês desde miúda (andámos na mesma escola de música e no mesmo secundário) e nunca imaginei que, um dia, iria ser das minhas ilustradoras preferidas. Escrevi sobre este livro para a Time Out Lisboa e acho que deve fazer parte de qualquer biblioteca.
BANDA DESENHADA
Colecção Olívia de Thom Pico e Karensac
A partir dos 7 anos. A Olívia faz-me lembrar a Hilda, que também tem uma série de animação na Netflix. São ambas aventureiras e ambas têm a sorte (ou o azar, depende da perspectiva) de se cruzarem com criaturas fantásticas.
Um Coração, Dois Caminhos de Nora Dåsnes
A partir dos 12 anos. Li esta novela gráfica este ano e acho que fará maravilhas para os jovens que estão a descobrir quem são e do que gostam.
Finalmente o Verão de Mariko Tamaki e Jillian Tamaki
A partir dos 13 anos. Descobri esta novela gráfica por acaso na Livraria de Santiago, em Óbidos, e é um dos livros da minha vida. Acho mesmo que é para todas as idades, mas imagino que o lermos na altura em que estamos a atravessar a pré-adolescência e a adolescência possa ser transformador.
Haverá certamente muitos outros trabalhos de que gosto que poderia recomendar, mas estes foram os primeiros que me vieram à cabeça e isso também diz logo qualquer coisa sobre o quão marcantes são. Espero que as vossas crianças gostem tanto deles como eu.
canto da sereia, especial 4
I
Recomendo muito a newsletter da Sara Amado, a Prateleira-de-Baixo, que também é uma caixa de subscrição de livros e está cheia, cheínha de sugestões literárias para crianças e jovens.
II
Com o Clube de LeYtura da LeYa (9,90€/mês), as famílias podem receber todos os meses dois livros infantis e juvenis e muitas outras surpresas, como actividades para fazer, desenhos para pintar e até quizzes. A ideia é criar hábitos de leitura desde cedo, com obras criteriosamente seleccionadas por especialistas para a faixa etária do leitor: dos zero aos três, dos quatro aos cinco, dos seis aos oito, dos nove aos dez ou dos 11 aos 13 anos.
III
Aproveito para recomendar este artigo que escrevi, sobre ilustradores de livros infanto-juvenis que vale a pena manter debaixo de olho.
IV
Se gostam de apoiar livrarias independentes e preferem comprar livros em pessoa, aqui ficam os meus lugares preferidos em Lisboa para repôr o stock dos miúdos, em português e inglês:
Tigre de Papel (Rua de Arroios, 25)
It’s a Book (Rua do Forno do Tijolo, 30A)
Colour Square (Campo Pequeno, 20)
The Poets & Dragons Society (Rua Ferreira Borges, 128)
Baobá (Rua Tomás da Anunciação, 26)
FuFu (Rua Luciano Cordeiro, 27D)
Se quiseres apoiar a minha escrita, podes:
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O mais recente livro ilustrado pela Raquel, Thanks Blanket de Christopher Vanderkooy, não tem tradução para português, apesar de estar editado em Portugal pela The Poets & Dragons Society. E, sim, também recomendo. Já o li à Teresa mais de três vezes. Ela não percebe patavina, mas desconfio que gosta (pelo menos das ilustrações).
Entretanto, já se aventurou novamente, com As Coisas Que As Coisas Fazem Quando Ninguém Está a Ver, ilustrado pela Carolina Celas.
Não conhecia o Clube de Leytura da Leya. Adorei a ideia e já sei qual é a próxima prenda que vou oferecer à minha sobrinha. 😍 Obrigada pela partilha!
Acho que sim! Funcionou tudo bem à primeira.