
Há anos que subscrevo várias newsletters do Público — Livre de Estilo, Ípsilon, Leituras, Fugas e Azul. Mas, até há uns meses, a vontade de ler seja o que fosse que aterrasse na minha caixa de correio ia esmorecendo à medida que os e-mails davam ar de sua graça.
O que mudou, perguntam-me. A descoberta do Substack, claro.
De repente, já não abro e-mails com aquela inércia de quem varre notificações. Sinto-me, pelo contrário, a fazer qualquer coisa de íntimo, quase ritualístico. Há um prazer inesperado em deslizar pelo correio electrónico, não para apagar mensagens acumuladas, mas para encontrar uma voz amiga.
Ler newsletters de manhã tornou-se um hábito reconfortante. Nem preciso de sair da cama — fico ali, no quente dos lençóis, entre o silêncio da casa e o ritmo ainda lento do mundo lá fora.
Quando nada me cai no e-mail1, abro a aplicação e corro a fila que me é sugerida na página inicial. As minhas subscrições são ecléticas, mas a maior parte tem em comum o tom epistolar, a proximidade, a sensação de que alguém escreveu só para mim e não para um leitor abstracto.
Sim, eu sei que já existem newsletters há anos, mas estavam sobretudo atreladas a jornais, revistas ou empresas. Eram um apêndice de algo maior, um canal para distribuir artigos, para agregar notícias, para manter os leitores dentro do ecossistema de uma publicação.
O Substack veio mudar isso: transformou newsletters em destino e não em desdobramento. Aqui, quem escreve tem total autonomia — não há editores a ditar linhas editoriais, nem métricas a influenciar o que merece ser publicado. O autor escreve porque quer, e o leitor lê porque está confiante de que, mais do que informado, será surpreendido.
Por outro lado, e talvez seja aí que reside a verdadeira diferença, ao contrário do que acontece com as newsletters tradicionais, aqui a comunicação não é unilateral. No Substack, é possível continuar a conversa directamente com quem escreve, e até com outros leitores com os mesmos interesses. Este incentivo à partilha torna a experiência mais rica e mais próxima do que era, em tempos, a blogosfera.
As newsletters do Substack não são apenas algo que lemos — são algo em que participamos. Um lugar para voltar, mas também para habitar. Um espaço onde a leitura não termina na última linha, mas se prolonga na troca, na ideia que fica.
canto da sereia #11
I
A primeira newsletter que subscrevi no Substack foi a do Clube de Leitura da Livraria Plutão, que recomendo imenso2. Mas tenho muitas outras favoritas: a do João Azevedo, a do João Salazar Braga3, a do Zé Pinho, a do João Lameira, a da Raquel Felino, a da Carolina Novo4 e a da Cristina C. Azedo5, por exemplo.
Adorava saber quais são as vossas e porquê.
II
Relacionei-me imenso com várias partilhas feitas nesta publicação sobre começar uma newsletter no Substack. À semelhaça do Luri Ribeiro, eu também não disse a ninguém que conheço6 que tenho uma, e as minhas razões são exactamente as mesmas (querer evitar a pressão do compromisso público e a probabilidade de me fazerem sentir pretensiosa, ou pior, tosca).
Em inglês, também sobre esta nova era de newsletters, recomendo esta do Newsletter Circle.
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O que é, aliás, frequente, porque entretanto subscrevi tantas newsletters que escolhi não receber a maior parte no e-mail.
O Luís Leal Miranda, que a escreve, foi director editorial da Time Out Lisboa durante uns meses, e é das pessoas mais criativas (e interessantes e boas) que conheço.
Se tivesse de recomendar apenas um texto da Carolina, talvez este sobre a importância de nos permitirmos sermos vulneráveis.
A história A cigana da minha mãe, que a Cristina tem contado capítulo a capítulo, é absolutamente deliciosa. Se ainda não conhecem, comecem pela parte 1 e 2.
À excepção de amigas muito íntimas.
Também fui lendo algumas newsletters mais fora da caixa ao longo dos anos, mas fiquei apenas com duas: a da Maria Popova e a do Tim Ferriss. O Substack trouxe-me de volta ao espirito da blogosfera: voltei a ler formatos mais longos e pessoais que cativam. Acho que é a nossa busca pela humanidade nos outros que me atrai nesta plataforma. E talvez a ausência dela que me fez sair das redes sociais onde o formato de consumo rápido e instantâneo me encheu o saco. Obrigado pela recomendação, fico muito feliz ter quem me leia e goste do que escrevo.
"As newsletters do Substack não são apenas algo que lemos — são algo em que participamos. Um lugar para voltar, mas também para habitar. Um espaço onde a leitura não termina na última linha, mas se prolonga na troca, na ideia que fica." – nunca fui dada à leitura de newsletters até ter descoberto o Substack. Descobri a plataforma por seguir imensas pessoas da blogosfera que migraram para aqui... Desde então, não a abandono por nada.
Por conselho de uma amiga, comecei a escrever o «Notas Soltas» no TinyLetters (já descontinuado), daí estar aqui. Adoro todas as funcionalidades que a plataforma oferece, mas acima de tudo, a atmosfera análoga ao blogger é que me apaixona mais. Como destaquei a partir do que escreveste, esta plataforma guarda sucessivos abraços que estão disponíveis para qualquer um. 🫂